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A Sexualidade e os Cenários de Migração Virtual na Internet
Série de Artigos sobre Sexualidade e Repressão Sexual na Internet
1 a. revisão em 11.06.2008
I . Aspectos Psicológicos
Quadro
de William Bouguereau,
L'enlèvement de Psyché, 1895
(O Rapto de Psychê
- por Eros/Cupido)
1.
Mesmo quando se analisa a sexualidade em um veículo de alta tecnologia e de
conhecimento avançado, como a Internet, o tempo psicológico não reconhece a
distância entre os tempos primordiais do desenvolvimento humano e o nível de
evolução cultural a que chegaram o ser humano e suas comunidades. Para a mente
humana, o ser é um só em toda essa escala cronológica, embora o cérebro se
organize pela divisão e pela contagem do tempo. Nesse mundo atemporal do
simbolismo humano, não faz muito sentido falar sobre sexualidade e Internet,
mas continua a ser fundamental para a nossa psychê conversar sobre a
sexualidade. Entretanto, assim como não é possível refletir sobre sexualidade
sem fazer referências ao fisiologismo e aos instintos do corpo, também seria
impossível, para os humanos,
dialogarem sobre o tema da sexualidade sem considerarem todo o comportamento
emocional do ser, sem incluírem nesse estudo o enredamento primordial que se
forma na personalidade, entre o desejo e o afeto, entre o desejo e o amor. Há
ainda um terceiro e um quarto componentes que não podem faltar a esta discussão.
Um deles é a razão, que constantemente se interpõe entre os encontros e
desencontros do desejo e do amor, e o quarto é a cultura, suas raízes, seus
contextos, sua história, ao mesmo tempo produz o ser e é produzida por ele,
sem que se possa desvincular um e outro.
2.
Se o assunto é o sexo e como ele se manifesta na rede mundial de computadores,
então já se espera que a cultura e a razão sejam presenças fortes no debate.
Mas a afirmação de que os laços profundos e imemoriais da existência humana
estejam tão presentes quanto os dois primeiros fatores, já não é uma coisa tão
fácil de se perceber. Não foi por acaso que a imagem escolhida para ilustrar a
apresentação deste artigo tenha sido uma obra artística do séc. 19, que faz
referência ao mito clássico de Eros e Psychê. Os aspectos mitológicos estão
presentes nas pessoas, cada vez que se liga o computador e se navega pela
Internet, e não apenas esses aspectos de nosso passado remoto influenciam tanto
nossa navegação eletrônica quanto os reflexos dela em nossa
sexualidade e afetividade. Há ainda os fatores arquetípicos jungianos, que são
sem dúvida atuantes em nosso comportamento junto aos equipamentos cibernéticos.
Há toda uma operação arqueológica do ser operando junto com os circuitos
digitais. Os tabus, os rituais, as propriedades mágicas, os enlaces
espirituais, a transcendência, todos esses elementos “navegam” conosco e,
é claro, junto de toda a nossa “carga existencial” mais próxima e mais
direta, junto de suas (tentativas de) explicações. Este plano
existencial continua a ser o primeiro plano de nossa experiência, mesmo que a
atividade seja o uso de um equipamento tecnicamente muito sofisticado. O
computador não deixa de ser secundário, mero instrumento das fantasias, das
imagens, das elaborações, dos elos que o sujeito está continuamente
procurando formar, manter ou renovar, com seu mundo. Inverter esses valores
seria uma “tentação”, e uma atitude bastante comum em nossos dias, nesta
cultura de supervalorização dos objetos e da tecnologia. Mas, como se afirmou
acima, para a mente esse progresso técnico-científico só faz sentido se puder
refletir e se integrar aos processos permanentes de construção da
personalidade e da experiência de vida, da mesma forma que há milhares de anos
passados. Resumindo, a busca “profunda” do ser humano continua a mesma, com
ou sem as máquinas. Falemos, entretanto, na presença delas.
3.
É surpreendente a enorme freqüência com que os cidadãos estão buscando
formas virtuais de relacionamento, de comunicação e de fruição de sua
sexualidade, através do meio eletrônico, já que o sexo continua a ser uma
forma de contato pessoal direto, de uso do sentido do tato, do toque e da visão
do outro, afinal, de uso do próprio corpo e de união dinâmica, movimentada,
muitas vezes coreografada, ritualizada, ao corpo de um (a) parceiro (a). Seu
calor, sua pele, seus fluidos, etc. Mesmo assim, o sexo na Internet se alastra
quase como uma febre. E, quando a navegação não se envolve diretamente com
conteúdos de relações sexuais, há uma paquera intensa, uma busca intensa,
quase uma sofreguidão. Esta é uma marca de nosso tempo, e talvez tenha algo a
ver com a solidão dos tempos modernos, com o isolamento relativo das pessoas. Há
uma grande tristeza no ar, pois as prioridades em nossa cultura são quase todas
materiais. O lado humano e afetivo não é o principal nos esforços de sobrevivência
em nossa sociedade industrial-tecnológica, e os danos psicológicos que isto
causa são sistematicamente esquecidos, trocados por estímulos, sensações,
objetos e novos comportamentos, como o consumo e a oferta quase inacabável de
produtos cada vez mais bonitos, perfeitos e sofisticados. Por isso, deve-se fazer
um questionamento sobre essa atitude fácil e esperada de seguir a “onda
virtual”, naquilo que diz respeito aos sentimentos, e também ao desejo. Será
que os cidadãos têm consciência das dificuldades que existem, no
relacionamento direto e objetivo com as pessoas? Será que o processo de
amadurecimento e de aprendizagem está sabendo lidar com as questões da convivência
e das relações humanas, ou está contornando tudo, através de alternativas de
consumo e de tecnologia? Como será que essa intensa atividade do mundo
contemporâneo está afetando, por exemplo, a dinâmica familiar e o processo de
formação de novas famílias estáveis? É importante saber isso, porque, para
a mente, não há diferença, quer dizer, ela vai procurar modos de se realizar,
de ser "feliz" (bem sucedida), de superar as dificuldades, e
para ela é fundamental encontrar respostas, saber quais são as melhores
alternativas, que decisão tomar, afinal, em sua vida. Não se pode deixar de
dizer, contudo, que em certa proporção essa presença maior da sexualidade nas
formas de contato interpessoal são resultantes de alterações específicas de
como se percebe o sexo na cultura atual.
4.
Toda a histórica cultural e científica, aí se incluem as inúmeras tentativas
de resolver o conflito entre o impulso sexual e os impulsos afetivos, chegam ao
ponto “final” comum, à grande encruzilhada da vida, onde não há receitas
prontas, nem escolhas totalmente seguras, e uma intensa volatilidade do que
possa ser certo ou errado, adequado ou não, e isto não quer dizer que seja o
relativismo da questão. Se não há um regulamento estrito para o
comportamento, nesta fronteira comum do corpo e da alma, isto não quer dizer
que os princípios não valem neste caso, mas que há infinitas posturas que
podem ser adotadas. O essencial é que se tome as decisões a esse respeito,
sobre a própria vida, sabendo pensar a respeito das possibilidades que se
apresentam, podendo, ainda que de modo precário, prever ou avaliar as possíveis
conseqüências de nossos atos a respeito de nossa vida sexual e/ou afetiva.
Para que eventuais erros e frustrações possam ser percebidos e superados. As
necessidades sexuais (instintivas) são via de regra opostas aos impulsos
afetivos (psicológicos), duas forças enormes que se encontram e
precisam conceber modos constantes de integração. Por isso, seria perigoso
oferecer qualquer prescrição para as pessoas, ou dizer que a liberação
sexual é boa ou má, ou que o casamento tradicional é a verdadeira solução
para a humanidade. Depende de quem, depende de como e do porquê as coisas
acontecem. Mesmo assim, há um jogo básico de valores, por assim dizer, há
algo a dizer sobre os pontos de partida deste campo vital.
5.
A sexualidade é a base de preservação da espécie, e está também na base
dos indivíduos – seu corpo e personalidade – e das culturas, através
do tabu do incesto – a formação dos vínculos familiares –, mas o
que nos interessa é a transformação ideológica por que passa hoje o instinto
sexual, seguindo uma história da organização social, ou seja, no mundo humano
em permanentemente construção. São essas tendências ideológicas atuais que
encontraram no meio cibernético e telemático condições bastante favoráveis
à sua propagação, desdobrando-se em novas camadas de significação e
simbolismo, e trazendo profundas conseqüências para a cultura pós-industrial,
que vão desde a formação psíquica dos indivíduos e as relações
interpessoais até as formas culturais com que nos deparamos, neste início de
sociedade tecnológica, ou sociedade de cultura avançada. Determinadas formas
ideológicas de elaboração da sexualidade podem ainda redundar em modos de
produção distintos, em diferentes formas de organização da sociedade e de
produção, divisão e circulação de riquezas. Apenas para citar um exemplo, a
visão unilateral da acumulação pura e simples de capitais, hoje se sabe que
insustentável, mas que fez parte da história social, estaria diretamente
alinhada a formas extremas do sexo como consumo, à impessoalidade total, ao
reforço de um regime meramente reprodutivo e sem qualquer margem crítica. Este
era um dispositivo ideológico imaginado mas, que se diga de passagem, nunca
pôde ser implantado, nem encontrou ambientes favoráveis, por ser contrário a
outras tendências sociais muito fortes. Mesmo assim, na ficção e na arte,
este tema resvalou diversas vezes, especialmente nos estudos e estéticas sobre
o totalitarismo. Quer dizer que a sexualidade tem profundas implicações
ideológicas e políticas.
6.
Recuperando apenas a memória mais recente, a sociedade deixou de conviver com
um ambiente extremamente moralista e conservador e "escorrega"
rapidamente para o outro extremo, o da permissividade, o do sexo como consumo e
como objeto frio, destituído da afetividade condutora de toda a educação
sexual da civilização. O "padrão tradicional" é
agressivamente confrontado, assim como toda formação estética sexual que
possa ser associada à história conservadora das famílias e das classes
sociais. De outro lado, contudo, a irreverência, o deboche, a contestação e a
carnavalização do sério através do obsceno e do indecoroso também ganharam
terreno e prosperaram. A renovação dos padrões sexuais na transição da era
industrial para a tecnológica tanto atualizou e democratizou os relacionamentos
amoroso-sexuais quanto criou novas formas de alienação ou de opressão. Um
primeiro olhar mais geral, contudo, já nos dá evidências de que a propalada
revolução sexual e de costumes não resolveu o problema sexual-afetivo da
cidadania, das pessoas, das famílias, das comunidades ou da sociedade em geral,
e em especial não resolveu esse problema para as mulheres. Além disso, a
sexualidade tem sido apropriada constantemente como campo da disputa política, comercial e ideológica. O novo, que parecia ter chegado para
resolver, complicou ainda mais. A atitude que parecia renovadora parece ter-se
dispersado e afastado ainda mais as culturas de formas mais “bem-resolvidas”
de sexualidade. Ainda não se consolidou nenhuma forma combinada de consciência
e equilíbrio, desde as formas mais naturalistas até as culturalmente mais
sofisticadas, passando por todas as opções intermediárias, mesmo depois de
todas as experiências por que passou a civilização.
7.
Mas é preciso destacar que os papéis masculinos, se foram bastante afetados
nos campos profissional, amoroso e no ambiente familiar, não sofreram grandes
mudanças no campo sexual, a não ser pelo aumento dos relacionamentos
homossexuais. O papel tradicional dominante e machista, entretanto, quase nada
mudou. Com isso se quer realçar o fato de que toda a revolução sexual,
frustrada ou não, desviada ou não, baseou-se principalmente no comportamento
sexual feminino. Mas essas grandes mudanças ocorridas após a 2 ª Guerra
Mundial não se efetivaram exatamente como as mulheres gostariam. O processo de
emancipação feminina institucionalizado nas culturas a partir dos anos 60
tornou-se objeto de intensas batalhas ideológicas, para que a transformação
dos papéis femininos, primeiro, não implodisse totalmente o mundo machista e
masculino de então, e segundo, para que esse enorme arejamento cultural não
abrisse demais as relações de exploração e de poder entre as classes
sociais, ou seja, para que a revolução sexual não tivesse tanto impacto
realmente renovador e libertador, no contexto da Guerra Fria e dos conflitos de
geração intensificados em 1968. Se estudados esses processos de mudança na
sexualidade e afetividade nos últimos 40 anos, poderá se constatar a frustração
e as distorções que se fizeram, em lugar de uma superação tranqüila de padrões
amoroso-afetivos, alguns chegando a recuar vários séculos. Pode-se dar como
brevíssimo exemplo disso o papel secundário das mulheres na Grécia Clássica
– mesmo na vida afetiva, as relações de concubinato do Brasil Colônia e o
papel submisso das primeiras décadas do século 20 (a sociedade patriarcal).
A revolução dá a impressão de ter ficado pela metade, de não ser realmente
levada a sério pela população masculina, ou de ter-se deslocado para ser mais
uma “enrolação” (uma astúcia) dos homens em relação às suas
parceiras sociais e de vida. Além disso, o movimento emancipador feminino
assumiu muitas formas caricatas, isto é, ao de fato libertarem-se, não
conseguiram abrir culturas efetivamente mais conscientes e tranqüilas, mas
incorporaram muitos dos comportamentos masculinos que elas mesmas desaprovavam.
8.
Há duas décadas em especial, as décadas de 1960 e 1970, em que se as tensões
comportamentais acumuladas desde os tempos imemoriais transbordaram, iniciando
um profundo conflito entre os papéis feminino e masculino, e entre as gerações,
trazendo para o ambiente social novos produtos e processos, como a pílula
anticoncepcional, associados a fenômenos como o rock&roll, o movimento
hippie, a difusão do uso de drogas, o movimento jovem e a revolução doméstica
dos eletrodomésticos, a pseudo-liberação da mulher de seu papel de “rainha
do lar” (na verdade, acumulou funções, mas os filhos perderam essa convivência,
e a mulher perdeu parte do cavalheirismo de seus parceiros, fazendo com que as
relações amorosas ficassem mais superficiais e francamente utilitárias, de
parte a parte) e seu ingresso definitivo no mercado de trabalho, não sem
provocar uma aguda crise familiar, que desencadeou uma avalanche de separações
e divórcios (em parte positivos, rompendo laços inadequados, em parte virou
“moda”), tendo como uma das conseqüências a alteração total dos
valores relacionados à vida sexual e o surgimento de milhões de
“descasados”, entre outros efeitos, para a educação dos filhos, por
exemplo.
9.
Antes disso tudo ocorrer, porém, desde o surgimento do marxismo e de outras
alternativas doutrinárias no século 19 até a eclosão dos manifestos de
vanguarda e do período de confrontação das ideologias, acelerado e
multiplicado pela Revolução Russa, uma intensa produção intelectual analisou
profundamente as bases do comportamento sexual, começando por Freud e
estendendo-se até a Escola de Frankfurt, a Psicologia Social e diversos filósofos
que se insurgiram contra as formas do pensamento estabelecido, até chegar em
Sartre e Simone de Beauvoir, nesse intermédio destacando-se trabalhos como os
de Wilhelm Reich e o Relatório Kinsey, sobre o comportamento sexual dos casais
americanos. Somaram-se a essa produção intelectual crítica as pesquisas históricas,
desenvolvendo-se enormemente na segunda metade do século 20, e a Antropologia,
que em seu marco inicial já contestou a universalidade dos padrões sexuais
ocidentais para a opinião pública da época, quando Malinowski estudou o
comportamento sexual dos trobriandeses e a vida familiar diferenciada das Ilhas
do Pacífico Sul.
10.
A grande expectativa das décadas posteriores a 60 e 70 era de que a sociedade
enfim encontrasse modos de comportamento sexual-afetivo que respondessem às
crises criadas desde o pós-guerra, ainda nos “anos dourados”. Mas, em
geral, o que ocorreu foi que todos os sonhos de uma vida sexual-amorosa mais tranqüila
caíram na desilusão, de um modo ou de outro, até que, nos anos 80,
o próprio sonho de um casamento afinal mais feliz e integrado, desmoronou. Esse
período foi bem marcado na mídia brasileira, pelo seriado precursor Malu
Mulher, estrelado por Regina Duarte e Antonio Fagundes, quase um “escândalo”
para os padrões da época, mas que já retratava a diluição dos laços
familiares tradicionais, e disso também aflorava a enorme dificuldade de se
encontrar caminhos novos e estáveis. Até esse tempo, tudo se misturava.
Mesclavam-se o sonho das utopias, a emancipação dos cidadãos, a modernização
do casamento, a libertação dos preconceitos e a democracia, como soluções
definitivas para a harmonia do convívio social. Contudo, os problemas, em vez
de se resolverem, agravaram-se. Os temas da afetividade e da sexualidade têm
sofrido a interferência constante de outros jogos relacionais, e têm sido
bombardeados por uma disparidade de percepções, de vivências e de juízos,
quase sempre antagônicos.
11.
Emergiu com força a indústria pornográfica, antes um nicho bastante
localizado, proliferaram-se os motéis, os casos extraconjugais (tornaram-se
“hábito” em vários casais “comuns”), a vida noturna
especializou-se, surgiram as “garotas e garotos e programa”, o ambiente
familiar mergulhou em crises cada vez mais profundas, cresceu o uso das drogas já
não mais associado a movimentos de rebeldia, confrontação ou libertação (o
que já seria problemático, por ser impróprio para a saúde física e psicológica),
mas como fuga ou vício consumista, os relacionamentos amorosos distanciaram-se
de qualquer compromisso mais sério da vida a dois, intensificou-se a estética
do hedonismo (conseguir tudo sem esforço), do narcisismo (o culto de
si mesmo – egocentrismo – o estímulo das aparências e o enfraquecimento do
“eu”), do individualismo competitivo exagerado (perturbando ou
deslocando várias formas mais sadias e construtivas de colaboração individual),
e tudo isso desembocou na cultura consumista e na manutenção de um estado um
tanto infantilizado da geografia emocional da sociedade.
12.
Aprofundaram-se as linguagens de mercantilização da vida, das relações
afetivas e sexuais, refizeram-se os projetos de vida em bases mais pragmáticas,
alteraram-se os sentidos humanos para as demandas da “selva de pedra”,
desumanizaram-se os “princípios de realidade” do modelo proposto por Freud,
que bem ou mal criava uma economia de equilíbrio mental segundo um modelo
bastante humanizado, ainda que fisiológico. As culturas, na verdade,
aproximaram-se do “homem-máquina”, em vez de construírem o homem do
conhecimento, ao menos nesse campo instintivo e amoroso. Nesse sentido, todo o
complexo das indústrias do sexo, ou de mercantilização do sexo, não deixam
de ser realmente parte dos reforços de dominação social, ao servirem a certa
“ação de ideólogos”, para que a cidadania se deseduque, para que siga o
“caminho errado” e na confusão não possa afirmar suas identidades com
muita força. Achou-se, na época, que isso (o homem infantilizado, egocêntrico,
narcisista, hedonista, confuso, ajustado ao mercado e voltado para o consumo)
“vendia mais”, mas não se avaliou direito as conseqüências e os custos
sociais estratosféricos que isso tem hoje. Mas é preciso que se veja agora
como a continuação desses estímulos e orientações seria um equívoco terrível
para todos, uma perda generalizada e irreparável para o sentimento humano
e para toda a produção de riquezas, começando pelas formas culturais e seus
projetos. O fato é que o sexo hoje é "mais fácil". Há diversos
fatores favoráveis à precocidade sexual e à regularidade da vida sexual de
adolescentes e adultos solteiros. Os tabus da virgindade e da fidelidade foram
praticamente extintos como tais, embora ressurjam ou se mantenham renitentes em
certas comunidades, como forma diferenciada de opção da própria sexualidade,
particularmente em oposição aos valores da permissividade que se difunde.
13.
Em suma, a cultura foi de um extremo a outro e não alcançou o “almejado”
equilíbrio (será que queria mesmo esses equilíbrio, ou isto é mais um
mito da racionalidade humana?). A humanidade não fez a sua “psicanálise”.
O socialismo não salvou o mundo. A geração de 68 tornou-se careta (o filme
O Reencontro - Lawrence Kasdan, EUA, 1983 - retrata isto). As famílias não estão mais tranqüilas. As
formas de consciência declinaram e não foram substituídas por outras, mas por
uma cultura de mídia e de celebração da imagem. A ética foi para o espaço.
Ninguém lê, de modo geral, e poucos realmente têm uma vida intelectualmente
produtiva, entre os cidadãos. O pensamento crítico não está apenas
desprestigiado, mas tem sido sistematicamente combatido. Todo o esforço da
Filosofia do século 20 parece ter ido por água abaixo. A indústria cultural
nunca faturou tanto, rebaixando e reduzindo perigosamente os padrões
editoriais, mas isto também entrou em crise, e em parte a mídia tornou-se vítima
de sua própria estratégia de vendas, pois seu único caminho – seguindo
essa mesma lógica – seria rebaixar cada vez mais seus padrões (a não
ser a qualidade de transmissão dos veículos). Estamos perigosamente próximos
de gerar uma “espécie de epsilons”, segundo os conceitos genéticos de
formação de classes sociais subalternas do Admirável Mundo Novo, de
Huxley (Brave New World, Aldous Huxley. Inglaterra, 1932). O caso é que a natureza humana não suporta essas formas opressivas e
sempre acaba se insurgindo, isto já foi estudado e comprovado em todas as
experiências e aventuras totalitárias. A China e seus mais de um bilhão de
pessoas valeria uma discussão à parte, pois aí as demandas de alimentação e
de ordem social estão muito além das de outros países.
14.
A Internet, finalmente, ao mesmo tempo que poderia arejar todos esses problemas
e desilusões, abrindo novas perspectivas, corre o risco de reproduzir e reforçar
todos os descaminhos ocorridos nas tentativas anteriores, e não levar a cultura
e a cidadania à emancipação, a um nível real e objetivamente mais humano de
convivência social. Neste caso, o espaço virtual daria continuidade aos
problemas e às lógicas tradicionais, abrindo concorrência com os campos e
possibilidades reais de avanços de comportamento. Em vez de se integrar aos
esforços de superação diários da cidadania, passaria a se opor a esses esforços.
Por enquanto, os prováveis debates não se estabeleceram o suficiente e são
ofuscados ou substituídos de modo impróprio por milhões de chats e vídeos de
sexo virtual. Se os bate-papos virtuais têm trazido o valor muito positivo de
reaproximação das pessoas, de resgate dos debates críticos, de aprendizado,
de instalação de linguagens renovadas, de abertura de alternativas para as
novas gerações, ainda assim, os chats não conseguiram romper as
barreiras de vedação, de opacidade e de impermeabilização do essencial, nos
discursos contemporâneos (um período de unilateralismo neoconservador e de
discurso único). A nova “velha” indústria do sexo (e agora também
dos chats “para adultos”, das paqueras instrumentalizadas, etc.) fatura
bilhões de dólares todos os anos, avança sobre outras instituições sociais,
desorganiza sem propor nada além da mercadoria e de uma ideologia global
mercantilizada e coisificada (reificada), deslocando ainda mais a discussão
real sobre a sexualidade. E, mais grave, corre o risco de acabar substituindo
formas naturais de relacionamento interpessoal, em vez de se afirmar como um
grande mediador dos diálogos sociais.
15.
Isto se alinha ao cenário confuso e de bases conflitivas dos relacionamentos
afetivo-sexuais na atualidade, ao ritmo das baladas ou ao apego ao tradicional
de cada cultura, no caso de uma faixa também numerosa da sociedade. As pessoas
vivem distanciadas e angustiadas, apesar dos contatos intensos, e poucos se dão
conta disso. O pós-industrialismo começa de fato perturbado por traços de
desumanização, cujas conseqüências se vêem todos os dias no noticiário.
Certa banalização dos valores essenciais de vida, fazendo com que os cidadãos
mais conscientes e bem informados comecem a se preocupar com os destinos da
humanidade, enquanto o conflito se interioriza, como se a espécie humana se
rebelasse contra as bases de sua existência. Mas o fundamental é ver que isto também
é construído, que é ideológico e não “natural”, e é reflexo de certa
cultura da sexualidade, sendo apropriada por outros campos sociais. É um
sistema ideológico, embora seja uma doutrina beirando o caos.
16.
A cultura tornou-se mais sofisticada e mais arcaica. No mesmo tempo em que milhões
de pessoas comparecem à carnavalização “libertária” da Parada Gay de
2008 (sem desenvolver aqui essa discussão, que também é extensa e
complicada), em São Paulo, um austríaco prendeu durante décadas sua
filha, no porão da casa, e teve vários filhos com ela. Crianças estão sendo
assassinadas pelos próprios pais, sendo abandonadas para morrer pelas mães. As
crianças deixaram de ser crianças e passaram apenas mais um objeto a ser
explorado pela indústria de consumo. Não é apenas o abuso sexual. Os meninos
não são mais apenas trombadinhas. Sem qualquer outra perspectiva durante
vários anos, e sendo repetidas vezes humilhados e agredidos, tornaram-se
soldados militantes do crime e carregam rifles automáticos, enquanto viverem,
já que muitos não chegam aos 25 anos. Disputam pontos de drogas dentro de
escolas do Ensino Fundamental ou são simples usuários e consumidores, a
despeito do aprendizado e das experiências lúdicas que deveriam ter. As
meninas são iniciadas na prostituição aos 11 ou 12 anos, mas antes já
sofriam abusos em casa ou através das redes de pedofilia (outro sintoma
grave de distúrbio social, nos graus atuais). As doenças venéreas
retornaram com mais força que a sífilis e a Aids está dizimando comunidades
inteiras. Na África, combinam-se a Aids, a fome, a guerra e o abandono por
parte do mundo “civilizado”, o antigo colonizador que explorou o continente
africano sem piedade, e este responde como pode, organizando-se em torno das
lutas religiosas, do nativismo ou das culturas importadas.
17.
Milhares de casais esgueiram-se nas sombras da sociedade, procurando satisfação
sexual em frente aos computadores, ou em intermináveis “casinhos amorosos”,
enquanto a juventude vai “ficando”, sem muitas informações relevantes, sem
conhecer direito as bases de sua vida, a construção dos processos históricos,
a ideologia em que estão imersos. Os jovens estão sendo pressionados pelos
interesses ultra-organizados, a se ajustarem e a aceitarem tudo, e tudo já vem
pronto, pensado, medido e decidido. Alinhar-se a esses esquemas tornou-se pré-requisito
de integração ao sistema produtivo, e nisso se amarram as baladas seguidas, as
aventuras da “night”, os valores de consumo, o culto a imagens esvaziadas de
sentido. São poucas as
oportunidades de realmente encararem uns aos outros, de forma solidária e
consciente, sem que seja para se afirmarem agressivamente em lutas individuais e
de gangs, na transgressão pela transgressão. A falta dessa reflexão faz com que não percebam toda essa carga ideológica
sobre eles, fazendo com que as vigorosas forças da juventude não saibam mais
dar as respostas adequadas aos desafios de seu ambiente cultural. O poder de
contestação e o espírito crítico da juventude, talvez a força mais vigorosa
da democracia moderna, a enorme capacidade criativa dos jovens, sua disposição
para o novo, suas iniciativas, o desejo intenso de assumir o mundo, de
participar dos debates, tudo isso está estruturalmente comprometido.
18.
As formas atuais de “contato direto” com a sexualidade, nas baladas, nos
relacionamentos amorosos, na cultura que explora a sensualidade e o desejo para
o consumo, na indústria pornográfica e agora no “sexo virtual”, são muito
enganosas, na trajetória pessoal dos cidadãos. É mais um núcleo que se forma
para a desilusão. Uma ação reafirmativa ou compensatória, já que as
relações principais não se concretizaram. Mais um afastamento em relação a si mesmo, mais uma astúcia
das sensações. É muito fácil encantar e seduzir uma geração que desperta
para a vida adulta, deseducando-os para a vida afetiva e sexual. Tudo isso
soaria como lugar-comum, mais uma voz entre outras, se não fosse a observação
que se pode fazer sobre os efeitos culturais, emocionais, econômicos, políticos
e ideológicos da propagação desses valores mencionados e comentados.
19. Talvez o ponto mais importante nesse estado de coisas, para que se comece a reverter essa situação, seja perceber que os comportamentos ajustados, segundo as bases descritas acima, não denotam emancipação e liberdade, e nem apenas “permissividade”, mas, sobretudo, repressão sexual. Reich estudou precisamente esses aspectos, e os chamou, indiferentemente da consumação ou não do ato sexual, de disfunções do orgasmo, por causa da rede de problemas associados à sexualidade. Marilena Chauí (Repressão Sexual. Marilena Chaui, 1984) já escreveu um livro sobre isso. Marta Suplicy (Conversando Sobre Sexo. Marta Suplicy, 1987), antes de ser política, estudava esses problemas ligados ao sexo e ao relacionamento amoroso. As pessoas acham que estão “extravazando”, ou sendo “autênticas” e “livres”, quando na realidade caminham para ficar mais tensas e insatisfeitas, como em qualquer outro círculo vicioso ou obsessivo, mesmo não estando presente (ainda) a compulsão. Ou para ficarem frígidas. Mesmo nesse clima de “liberdade”, esses comportamentos na verdade limitam a vida das pessoas. São “agitações”, ações quase sempre reflexas, e raramente refletidas, do ponto de vista ideológico, embora na economia cotidiana os sujeitos obviamente procurem pensar em suas atitudes. Mas não conseguem compreender direito “no que estão se metendo”, e têm apenas uma vaga noção do que poderiam estar fazendo “em vez disso”, ou seja, não há um processo de escolha consciente. Como resultante, todo o cenário cultural descrito nos parágrafos anteriores, todo o mundo na forma como o vemos, está diretamente ligado às bases aprendidas da vida sexual, segundo as formas ideológicas de sexualidade que foram citadas. Os cidadãos precisam resgatar a noção de que há um diálogo permanente entre a vida instintiva e a história afetiva, que se realiza através dos mecanismos de sublimação, isto é, a regulação dos impulsos fisiológicos e psicológicos através de valores ideológicos, negociando atitudes mais ou menos adequadas, buscando ou assimilando formas mais instintivas ou simbólicas de satisfação ou frustração, conforme o caso. Esta é a base ideológica e científica do mito de Eros e Psychê.
II . Aspectos Sociológicos
20.
Qual é o problema político subjacente a esse estado persistente de conflitos
amorosos e sexuais, em nossa sociedade? O problema é que para “amadurecer”,
para superar as frustrações e a ansiedade relacionadas à satisfação
instintiva infantil e ao aprendizado emocional posterior, o indivíduo precisa se integrar cada vez mais à sociedade. Por fim, a maturidade
na vida sexual-amorosa demanda a emancipação na vida social. Os cidadãos
precisam do trabalho, do Estado de Direito. O indivíduo passa a ocupar novas
posições e a reivindicar níveis mais avançados de convivência humana,
quando amadurece e se educa. Sua consciência se desenvolve e se torna mais
complexa, toda a gravitação de sua vida se desloca para níveis mais elevados.
Somente assim ele está suficientemente apto a se dedicar às disputas e
conquistas amorosas, a viver de modo livre a sua sexualidade. São mundos completamente antagônicos que precisam existir, diante dos quadros
distintos da geografia emocional, se prevalece o mundo da consciência ou o da
confusão.
21.
O casamento, a organização de uma família, os deveres, compromissos,
responsabilidades, tudo isso precisa de contrapartidas fortes do Estado, das
instituições e instâncias coletivas, da correção na escolha de prioridades
das políticas públicas. Pode parecer absurdo, mas não é, e isto estudaram os
cientistas, intelectuais e filósofos citados no início, mas o relacionamento
saudável e construtivo, o amadurecimento sexual-afetivo não convive com o
autoritarismo, com a corrupção, com a ruptura social. Em qualquer cultura
sadia e equilibrada, torna-se naturalmente inaceitável qualquer forma abusiva
ou predadora de relação social, em qualquer campo, sem que haja sanções
previstas para essas atitudes. Têm de vigorar
margens de negociação e sistemas muito bem organizados entre os interesses
concorrentes.
22.
Segue-se então a antiga análise de que, já que as coisas são como são,
“alguém deve estar ganhando muito com isso”, e todos esses desencontros
e dramas humanos – ou pior -, toda essa indiferença e distorção, ocorre
em troca do privilégio das minorias. Nessa abordagem, volta-se a atenção para a acumulação
de capitais e para os abusos do capitalismo, atribuindo-se tudo ao modo de produção
e à lógica econômica, mas as coisas não são tão simples e nem tão
deterministas assim, embora estejam de fato relacionadas aos modos de
produção. Mas, no socialismo houve problemas correspondentes e tão graves
quanto no ocidente capitalista, e o socialismo, ou o antigo bloco comunista, tem
de afinal aprender a conviver com o consumo e com os avanços culturais, e
persistem diversos conflitos no interior das famílias e dos relacionamentos
sexuais e amorosos. Além disso, no Ocidente
as minorias privilegiadas não são nem um pouco mais “felizes e
satisfeitas” que o restante da população, nas experiências sexuais e
amorosas. Então, resta uma questão mais básica, que inclui a própria
consciência individual, a despeito da cultura e do regime político, e a
responsabilidade universal dos cidadãos, oriunda do livre-arbítrio. Os indivíduos
e as comunidades precisam enfrentar
dificuldades e crises específicas em sua existência, e responder pelas conseqüências
de seus atos. O horizonte sexual-afetivo vai além dos regimes políticos e dos
modelos produtivos, embora esteja sempre vinculado a eles. Mas esse vínculo não é
total, já que há um choque permanente entre a ideologia do cotidiano e as
ideologias oficiais, e também entre os laços comuns coletivos e a formação
da subjetividade.
23.
A falta de equilíbrio na liberação de vários limites culturais, entretanto,
não é problema exclusivo dos antigos países comunistas. Os exageros da
cultura consumista ocidental não têm sido responsáveis apenas pelo
amortecimento das consciências, pelo entorpecimento da inteligência e pela
alienação da cidadania, mas, além disso, têm-se apropriado do espaço íntimo
dos vínculos sociais, mantendo as comunidades relativamente divididas, seus
espaços parcialmente ocupados, desde a intimidade familiar até o diálogo
interior de cada um. Quer dizer que a maioria da população ocidental não
alcançou os níveis mais elevados de cultura, embora propagandeie isso
como seu modo "superior" de vida. Efetivamente e de
modo geral, a cultura do Ocidente nas últimas décadas apenas internalizou uma
nova ordem sistêmica, aparentemente mais “moderna”. Em qualquer um desses
casos, porém, o “grande diálogo” da vida está fragilizado e perdeu parte
de sua sustentação, ocasionando alguns retrocessos, não obstante os numerosos aparatos de alta tecnologia e o enorme
progresso técnico-científico, pois os processos humanizadores (a palavra, a
ética, a cultura, a educação emocional e afetiva...) foram relegados ao segundo plano.
24.
No fim das contas, o debate atual sobre a sexualidade
acaba se encontrando com o que Milton Santos dizia ser o distanciamento
da “geografia emocional” na globalização, processo que criou um grande
desenvolvimento material sem contrapartidas simbólicas suficientes, para o
equilíbrio do ser humano e das comunidades globalizadas.
O lado esquecido do simbolismo e da afetividade humana poderia ser
restabelecido pelo diálogo mais simples entre as pessoas, não ficando mais tão
disperso na tecnologia e nos meios de comunicação de massa, mas as formas técnicas
do discurso oficial continuam a interferir nos espaços do cotidiano,
influenciando os temas constitutivos do sujeito e da cultura, aliando-se a
certas pressões
de mercado operantes nos últimos 20 anos. Nesse período ascendeu com toda
força a "civilização da imagem", mas de imagens destituídas do
diálogo e distantes das necessidades sociais reais. Somente as palavras podem
retomar os debates necessários, para que o mundo tecnológico seja veloz, porém consciente e
responsável. Deveria ser este um mundo do conhecimento e da emoção,
de uma
história afetiva e ética, além do progresso técnico, e este novo tempo deveria
ser antes um mundo de resgate das próprias palavras, e de uma estética
crítica e consciente. Esta é a única base humana
capaz de administrar os níveis muito avançados e sofisticados dos modos de
vida do século 21, sem que a espécie humana perca suas características
mais distintivas, e que principiam justamente nas formas mediadas, dialogadas e
aprendidas de elaborar os sentimentos e a sexualidade.
25.
Erich Fromm estudou exaustivamente os fenômenos psicossociais da sociedade
industrial, de liberação em vez da libertação das formas opressivas ligadas
à sexualidade. Segundo ele, tratam-se de atitudes compensatórias, “prêmios
de consolação” quando não se consegue resolver as questões básicas de
formação do caráter e da personalidade. As lacunas na formação da cidadania
no contexto de urbanização e industrialização foram cumulativas, e em alguns
casos tornaram-se traços coletivos, sob os quais toda a humanidade padeceu.
Geraram comportamentos coletivos e fenômenos de massa cada vez mais
autodestrutivos, e caminharam inexoravelmente para as grandes tragédias da
História. Em Anatomia da Destrutividade Humana e em outras obras, esse
autor estudou várias desgraças e catástrofes produzidas pelo homem, não raro
iniciadas pela organização de pequenos grupos, difundindo atitudes
hostis e agressivas que depois se aprofundaram e se alastraram por largas faixas
da população.
Os sintomas neuróticos e psicóticos estavam na base desses comportamentos, nas
crises sociais mais graves, e Fromm os caracterizou como indivíduos de uma
cultura necrófila, isto é, que cultiva e, depois de intensificada no final de
seu ciclo destrutivo, passa a venerar os aspectos mais mórbidos do viver. Karen
Horney chamou de “deseperança” e de “tendências sádicas” a esses
comportamentos, já no final do processo de instalação das neuroses, quando as
pessoas passam a desacreditar totalmente em algo de bom que possa acontecer em
suas vidas, ou quando não se sentem mais capazes de resolver seus problemas
mais angustiantes. Uma das defesas da mente, nesses casos, é o sentimento de
impotência diante de qualquer satisfação ou realização maior na vida, e
diante disso é que os comportamentos passam a aceitar desvios de comportamento
cada vez maiores, tentando “esquecer” ou “compensar” os revezes psicológicos.
26.
Essas disfunções psicológicas individuais não permanecem como tais, e,
dependendo de outros fatores sociais do momento, podem ganhar o terreno sócio-cultural
e produzir resultados catastróficos localizados ou generalizados. Neste ponto,
poder-se-iam citar, como exemplos a serem analisados, os episódios
extremistas do fanatismo reacionário americano nos anos 80, mas iniciado antes,
em 1969, pelo cruel assassinato da jovem atriz americana Sharon Tate,
mulher de Roman Polanski e grávida de 8 meses, vítima de uma
espécie de seita psicopata liderada por Charles Manson, estes condenados à prisão
perpétua. Em 1976, uma das seguidoras de Manson ainda tentou assassinar o
presidente Gerald Ford. Depois disso,
vem a difusão de novas organizações radicais nos estados do Sul americano, o
suicídio coletivo da
seita do pastor Jim Jones, em 1978, o massacre da seita davidiana ocorrido em Waco,
1993; o caso do “Unabomber” e o atentado a bomba no prédio do governo
federal em Oklahoma City, entre tantos
outros acontecimentos tristes. Em todos esses casos,
novamente, havia uma clara ruptura com a estrutura sexual e afetiva da
sociedade, ou pelo menos uma enorme obtusidade em relação ao conhecimento de
si mesmos, como o estranhamento enorme, abissal, entre pais e filhos, ou um
apego rígido e irracional a antigas tradições, e ainda, casos de abusos sexuais infantis, de
poligamia, de relacionamentos conjugais hierarquizados pelas funções das
seitas, tudo isso denotando uma base de enormes traumas pessoais mal resolvidos,
que em determinado caldo cultural de desinformação e desconhecimento proliferou-se, criando formas culturais
completamente distorcidas. Esses primeiros grandes cientistas da mente sempre
manifestaram a opinião de que a psicoterapia deveria ser uma questão muito séria
de saúde pública, mas até hoje isto encontra resistências enormes.
27.
Ao mesmo tempo que fez uma gigantesca análise psicossocial em sua obra, Fromm
avançou um ponto específico da Psicanálise, o estudo do “instinto de
morte”, proposto por Freud. Segundo Fromm, não há um instinto de morte, ele
é ideológico, é uma doença da própria cultura. Ele atua quando a libido, a
energia psíquica vital, o nosso emocional, não encontra saídas apropriadas e
satisfatórias, quando a mente ou toda a sociedade fica presa em armadilhas
mentais e não consegue mais aprender ou avançar. Uma de suas conclusões é a
de que o homem não tem escolha. Para se manter saudável, só pode progredir, só
pode ir para a frente, esta é uma imposição dinâmica da vida.
Na história da Filosofia, vários pensadores cuidaram desse lado sombrio
do ser, quando a mente não se desenvolve construtivamente e o emocional não
amadurece, através da discussão dos conceitos, podem ser citados Schopenhauer,
Nitzche, Espinosa e, mais recentemente, Jean-Paul Sartre, que falava sobre o
“nojo” de viver. Clarice Lispector era uma grande autora brasileira que
sabia como ninguém escrever sobre a vida interior, tocando os pontos mais sensíveis
de nossa alma, e também se referia muito a esse “nojo” de viver, o peso que
advém da própria existência.
28.
Há um filme-documentário sueco, falado em alemão, que analisa parte da construção do nazismo, para ver que
espécie de “plano mental” havia sob aqueles acontecimentos terríveis. Em Arquitetura
da Destruição (Peter Cohen, 1992), sobre as concepções e projetos estéticos do nazismo, vê-se
a reação descontrolada contra a rejeição, o ressentimento, a vingança,
enfim, traumas que seriam comuns no aprendizado da vida, se não ficassem presos
a dispositivos neuróticos. Quando isto ocorre, em vez de serem superados, eles
alteram substancialmente e visceralmente o ser, através de construções neuróticas
e de um conjunto extremamente contraditório de valores psíquicos, que em último
grau levam à psicose e à destruição completa, mas que podem arrebatar multidões
em sua sanha. Um documentário mais recente conta como o FBI, polícia federal
americana, contratou, durante a Segunda Guerra Mundial, um psicólogo para traçar
o perfil de Hitler, sem saber direito que tipo de informações viriam desse
estudo, naquele tempo. Dessa pesquisa afloraram detalhes muito fortes da infância
de Hitler, e das manias sexuais que desenvolveu na vida adulta, causando enorme
impacto em sua mente. A esses problemas acrescentem-se ainda o contexto histórico
da Alemanha em crise, após a derrota na Primeira Guerra Mundial, a situação
dificílima por que passavam os alemães, e a experiência do próprio Hitler,
que conheceu os horrores das trincheiras dessa guerra terrível, a primeira que
contou com a alta mecanização dos exércitos, contando com armas muito mais
mortíferas do que nas guerras anteriores, fazendo com que os corpos despedaçados
se espalhassem nas cenas de batalha. O apoio psicológico teria certamente
ajudado muito neste e em milhões de outros casos mais leves.
29.
Alguns dos estudiosos mais destacados da Psicologia fizeram referências a esses
fatos, pois muitos deles presenciaram e viveram as grandes tragédias do século
20. Em todos esses casos, assim como em outros que não foram tão longe quanto
as grandes guerras e tiranias, os estudiosos do comportamento identificaram,
sobretudo nas lideranças desses processos sócio-históricos, personalidades
transtornadas. Quer dizer, é melhor fazer a psicoterapia, porque senão os distúrbios
psicológicos podem alcançar expressão coletiva e cultural. Em todos esses
casos havia um acúmulo de traumas não resolvidos, que foram se complicando,
intensificando, levando a pessoa cada vez mais para as sombras, criando
comportamentos cada vez mais distorcidos, ainda que reforçados igualmente pelos
contextos sociais em que viviam. No Brasil, descrevendo um cenário mais ameno,
mas não menos sofrido, ninguém melhor que Nelson Rodrigues para dramatizar a
crise familiar no Brasil em fase de urbanização e modernização industrial,
revelando um mundo recoberto de grandes conflitos pessoais.
30.
Na base de todas essas desventuras da vida está a sexualidade, mas sua
ressignificação cultural-ideológica e não mais o sexo em estado puro (como
instinto fisiológico), como se pensou que
fosse a influência da libido, durante algum tempo, desde que Freud começou
a investigar os mecanismos inconscientes (o “material recalcado”, os
mecanismos de defesa, as resistências, as transferências, as projeções e o
enredamento cada vez mais emaranhado das neuroses). Freud e Otto Rank
trabalharam esses fenômenos de um ponto de vista mais próximo da fisiologia, e
Fromm e Reich o fizeram de um ponto de vista mais cultural, apesar de Reich
adotar uma linha objetivamente corpórea (o corpo físico) e sexual em
seus estudos. Ele constantemente encontra “sob a pele” distúrbios de ordem
afetiva e emocional, na raiz dos problemas sexuais. Quando a sexualidade e o
afeto não se entendem, a vida é mal vivida, mal compreendida, formando
pequenos nodos neuróticos, que depois se agravam, se a pessoa não procura um especialista, ou se a própria vida não
cuida de desfazer, espontaneamente, os processos mais superficiais. Nos quadros
que se agravam, é como ser apanhado em uma rede. Quanto mais a pessoa se
movimenta e tenta escapar, mais enredada ela fica, e mais se afasta da
realidade.
31.
Os psicólogos sociais, e também os psicanalistas clínicos, observam hoje nos
meios de comunicação, com enorme facilidade e muita freqüência, a manifestação
de distúrbios psíquicos em personalidades políticas, assim como em outras
profissões. Nas obras dos grandes autores da Psicologia há diversos comentários
feitos a esse respeito, querendo dizer que muitos dos grandes conflitos e
problemas da política não são, em sua base, apenas políticos, mas se
intensificam e se afastam um pouco da política, pelo comprometimento psicológico
de algumas lideranças envolvidas nessas situações (sem excluir o contexto histórico, mas fazendo parte dele).
O “parecer” dos psicólogos sociais é o de que esses indivíduos deveriam
ter buscado ajuda psicoterápica, antes de se embrenharem nas complicações políticas.
Alguns desses autores chegam a comentar que cidadãos que eles atenderam em seus
consultórios, naquela época inicial da Psicanálise, acabaram se tornando
pessoas bem resolvidas, de renome, prestígio e sucesso, depois de superarem
conflitos neuróticos, sem contudo dizerem o nome de seus antigos pacientes, por
causa do sigilo profissional.
III . A Internet
32.
Este é o cenário cultural complexo e complicado em que surgiu a Internet. Toda
essa problemática agora precisa ser discutida e observada, considerando-se sua
difusão e as formas de expressão circulando pelas novas tecnologias de informação e
comunicação. Isto quer dizer que há agora um outro
fator a ser considerado: a facilidade de acesso e uma diversidade imensa de
meios e produtos. Fatos semelhantes ocorrem em
comunidades interligadas por aparelhos celulares, por exemplo. Vê-se que
resolver a base humana da sociedade tecnológica é muito mais difícil do que
encontrar alternativas para o conhecimento ou para os sistemas materiais de vida.
Essa dificuldade humana sobre os assuntos do corpo e do coração não começou na pós-modernidade, mas vem desde os
tempos remotos, e sem dúvida agravou-se com a vida urbana na sociedade
industrial. O espírito crítico e reflexivo vem sofrendo
perdas sistemáticas com a vida moderna, envolta na cultura das grandes massas
urbanas e na sofisticação material crescente. Se essa tendência se aprofunda,
a Internet poderá tornar-se
apenas mais um meio de escapismo, distanciando-se ainda mais de uma autêntica vida afetiva e sexual. Se o
meio eletrônico não se voltar para o espaço exterior da experiência de vida,
sobretudo refletindo ou explicando o que não foi resolvido na dimensão
material “pura”, ficar diante dos monitores das máquinas corresponderá a dar um passo inadequado na direção do mundo tecnológico,
sob o risco de se agravarem os
problemas reais que precisam ser resolvidos.
33.
A tecnologia avançada é um instrumento sem igual na história, mas é meio e
ferramenta, não é fim, a não ser para quem trabalha especificamente com
hardware e software, ou com os conteúdos e informações circulantes, mas, mesmo para estes, é preciso fazer, por
exemplo, como faziam os engenheiros da Microsoft. Em determinado dia e nível de
saturação, deixavam seus gabinetes, laboratórios e quartos (muitos
trabalhavam em casa), colocavam suas bermudas e iam à sede da empresa jogar
futebol. Conviviam no espaço real e se conheciam melhor, a si e aos outros, enquanto desenvolviam a era dos computadores
pessoais. O mundo virtual não pode ser um mundo alienado e isolado. Ele só faz
sentido se criar laços válidos com a realidade, pois um sem dúvida irá
checar o outro, como é próprio das linguagens, isto é, a linguagem digital
atualmente “interpela” – cobra, verifica, analisa, avalia – a
linguagem real e suas dimensões, neste processo de transformação cultural por
que passamos, mas a linguagem real responde, e também demanda do espaço
virtual seus efeitos reais, sua influência real nos espaços “naturais”.
34.
Dentro de toda esta problemática, qual poderia ser a proposta de uma linha crítica de estudo da sexualidade na
era eletrônica e tecnológica? O
que poderia abrir uma discussão, objetiva, democrática e consciente
sobre esse tema tão antigo, tão nebuloso e tão fundamental para a nossa
vida? Que tipos de fruição da sexualidade no meio digital seriam experiências
significativas, importantes ou necessárias? Considerando-se os aspectos
apresentados, o que seria uma “Internet boa” e uma “Internet má”, na
difusão dos temas estudados aqui?
35.
Internet “má”’, neste tópico abordado, é aquela que intensifica, reforça, estimula e agrava as relações
pessoais e sociais causadoras dos quadros de distúrbios afetivos e sexuais. A
Internet usada como fim em si própria e não como instrumento de convivência,
trabalho e lazer. A Internet usada como forma de alienação e de reforço de
relações sociais degradadas. A alimentação informativa que não proporciona ao internauta a
possibilidade de interagir “dialogando”, sendo capaz de dar respostas
adequadas, ou que não proporciona aos usuários distinguir e diferenciar o
impacto das informações que recebe, para seu pensamento, sua vida e a de sua
família. A formação de internautas que não percebam as alterações ou transformações psicológicas por
que podem passar, em contato com esta ou com outra página eletrônica. A cultura informativa que interfere nas bases íntimas e
relacionais dos cidadãos, procurando substituir as relações reais da vida
apenas por contatos virtuais, rompendo a experiência objetiva e a subjetividade
de modo manipulador, sem considerar os enormes danos sociais que interesses
restritos e imediatos podem causar às sofisticadas sociedades de cultura
avançada.
36.
Há como evitar isso? Em princípio, não, desde que haja liberdade de expressão. Então é
preciso haver uma iniciativa de preparo, de educação e de consciência sobre a
navegação na rede de computadores, sobretudo para as crianças e jovens. O
apoio necessário deve ser dado pela família – tanto quanto possível,
considerados os entraves técnicos especialmente das atuais gerações – por outras figuras orientadoras e também pelos próprios
grupos de internautas, pela dinâmica das comunidades da rede, que tendem a ser
auto-reguláveis. Por isso, as comunidades virtuais podem ser coisas positivas,
ao criar culturas em que se expressam formas sadias de afeto e sexualidade, aqui
entendida mais como a libido, o prazer diluído e abrangente, e não apenas como relações sexuais no
espaço virtual. A presença exagerada da sexualidade na Internet, como já foi
dito, é um sintoma de que há problemas ocorrendo nas experiências reais, e
que esses problemas dizem respeito aos laços mais básicos
da existência, como a família, o trabalho e outras instituições básicas.
36.
A Internet “boa” é aquela que dá conseqüência às habilidades
desenvolvidas de cada um, dando um caráter de integração à interatividade
eletrônica. Quando a Internet ajuda a resolver os problemas das pessoas e os
problemas do mundo. Nesse ponto a “web” (teia) difere das mídias
anteriores, porque os usuários são sujeitos de sua navegação, são
co-autores ou participantes dos conteúdos oferecidos, e não simplesmente “público”,
ou “espectadores”, nem simples receptores das emissões tradicionais. E nem
os produtores de conteúdo da Internet poderiam fazer simples exposições,
pois, neste caso, não estariam utilizando todos os meios da realidade virtual,
mas apenas o “canal”, então isto não seria muito diferente de uma
transmissão analógica, e provavelmente não teria grande receptividade nas
comunidades digitais.
37.
Uma resposta positiva aos problemas afetivo-sexuais na rede mundial não
precisaria ser, obrigatoriamente, uma abordagem direta dos aspectos da vida
sexual e afetiva, embora isso seja possível de ser feito, mas seria desenvolver
determinadas culturas centrais, e largas faixas de tendência compondo essas áreas
centrais das infoways. Entretanto, este é um jogo que precisa se estabelecer
espontaneamente, no final das contas. Não adianta tentar ficar planejando,
bloqueando, legislando, em um espaço que justamente rompe as dimensões do
real, para abrir um mundo virtual sem limites. No espaço virtual é possível
realizar tudo que na vida real seria impossível de acontecer, e isto pode ser
feito de diversas maneiras, em diversos jogos, atividades e relacionamentos já
disponíveis e operantes no mundo digital.
38.
Se a Internet contribuir para que as casas, as ruas e os demais espaços reais
da sociedade equilibrem as suas forças, compreendam a complexidade dos novos
sistemas, integrem-se a novos sistemas produtivos, aí se poderá dizer que essa cultura central está ocupando as
principais áreas de navegação digital, está ajudando a organizar a vida das
pessoas e das instituições, e isto, por si só, já seria um filtro democrático
e natural da própria Web, opondo-se a toda sorte de abusos. A tendência, caso
se confirme a prevalência dessas comunidades ideologicamente mais bem centradas
(sabendo o que fazem), é de que o afeto ocupe um espaço maior, e as
formas exageradas de manifestação da sexualidade diminuam a sua expressão e
importância na Internet.
39. Se a maioria dos internautas partir de uma base real razoavelmente bem encaminhada, então é bastante provável que essa cultura central reguladora da Internet se imponha sobre as formas abusivas e distorcidas, ou simplesmente escapistas, e que via de regra os usuários busquem a navegação virtual como forma de resolverem adequadamente os seus problemas, ou como espaço para a produção criativa, sem que isso represente qualquer forma de censura autoritária. É para isto que a Internet poderia ser usada, na maioria das vezes, e isto facilitaria muito a integração das dimensões reais e virtuais. O tema da sexualidade, porém, continuará apresentando-se regularmente na rota dos internautas, e será preciso posicionar-se diante de cada nova possibilidade surgindo nas telas, de cada nova "provocação" desafiando os sentidos e o intelecto, testando nossa estabilidade mental e emocional, e será preciso encontrar respostas adequadas para cada um desses casos, pois a facilidade de acesso aos conteúdos e as ofertas "para o prazer ilimitado" serão abundantes.
40. Toda essa discussão inicial não quis estabelecer a priori um valor negativo para a fruição do sexo virtual, para a busca de relacionamentos que se formam na rede mundial de computadores, mas sim trazer à tona uma discussão que está ausente, e que não pode ficar de fora do fenômeno da informação digital. O que se está afirmando é que os internautas precisam pensar nisso, dominar esse assunto, enquanto decidem que tipo de experiências terão na realidade virtual. É preciso que saibam realmente o que fazem, para que possam medir os seus próprios limites, e avaliar os riscos diversos que a Internet oferece. No caso das crianças e dos adolescentes, os pais precisam complementar a consciência dos filhos sobre os riscos da navegação virtual, para que não sejam muito vulneráveis ao bombardeio informativo e às astúcias da rede. Posto isso, pode-se prosseguir o estudo sobre as formas de sexualidade - e de repressão sexual - na Internet. Conclui-se este primeiro texto relembrando que muito do que está sendo encarado como liberdade sexual, pode ser na verdade a repressão da sexualidade humana, e estaria bloqueando ou impedindo o fluir da sexualidade autêntica e sadia, e isto não quer dizer que que se deseja voltar para os antigos padrões moralistas de "normalidade" valendo para todas as pessoas.
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